Sessão evocativa alusiva à passagem dos 71 anos sobre o assassinato de Alfredo Dínis (Alex), no passado dia 4 de julho, no Adro da Capela da Bemposta.
Apontamentos da intervenção de Domingos Abrantes:
O assassinato
do camarada Alex, em 1945, ocorre num período de grande ofensiva da polícia
política contra a resistência ativa e organizada do PCP. O Partido acabava de
ultrapassar um dos períodos mais difíceis da sua história, entre 1939 e 1941,
durante o qual a violência da repressão tinha conseguido desarticular os
organismos de direção e atingido os quadros mais responsáveis, grande parte
deles enviados para o campo de concentração do Tarrafal.
Contudo o partido tinha empreendido um profundo processo de
reorganização, com o objetivo claro de mobilizar as massas trabalhadoras para a
luta antifascista. É nesse processo que participa ativamente o jovem Alex,
dando um contributo importante para o êxito das greves dos anos 40, ponto alto
da luta dos trabalhadores contra o regime.
No contexto internacional as forças nazi-fascistas acabavam de ser
derrotadas. Na Europa o contributo da União Soviética e das resistências
comunistas em vários países foi preponderante para essa derrota. Importava ao
imperialismo conter o avanço das ideias progressistas, por isso apoiaram as
ditaduras de Salazar e de Franco. Em Portugal essa situação manteve-se até ao
25 de Abril de 1974.
O êxito da
Revolução de Abril, com os contornos que veio a assumir, não é separável da
luta durante os anos da resistência. Parte dos protagonistas do golpe militar
visavam mudar o governo e algumas políticas, mas no essencial pretendiam manter
o regime. O fascismo só foi liquidado pela ação decidida das massas populares, que
determinaram uma mudança revolucionária fundada em valores democráticos e
progressistas.
Hoje na
europa as ideias fascistas voltam a alastrar à velocidade do som. Há 35 países
onde os fascistas estão no poder ou têm importantes representações. Tal não é
de estranhar, porque quando existem dificuldades o fascismo e as ideologias
populistas encontram as condições ideais para crescer, e voltam a ser o último
recurso do capitalismo.
Muitos tentam
reescrever a história com omissões, meias verdades e mentiras grosseiras. Em
Portugal vão-se apagando todas as referências à existência de um regime
fascista e assim, para quem se deixe iludir, que sentido tem falarmos sobre um
herói da resistência antifascista?
É por isso
que nos reunimos na freguesia de Bucelas, todos os anos, a lembrar o
assassinato do Alex. Para que a memória não se perca, para reforçar a
consciência de que a Liberdade nunca foi um dado adquirido: foi duramente
conquistada e tem de ser continuamente defendida.