29 novembro 2016

Colóquio Alves de Redol, povo, terra e literatura



26 de novembro 2016, auditório Tomás Noivo, Bucelas
Homenagem da freguesia de Bucelas ao grande escritor, por ocasião do 47º aniversário do seu falecimento.

Organização:
Junta de Freguesia de Bucelas

Apoio:
Associação Alves Redol
Câmara Municipal de Loures


Apontamentos de uma tarde bem passada


Élio Matias, presidente da Junta de Freguesia de Bucelas e anfitrião, explicou ao que íamos, e depois passou a palavra aos convidados.

“Um escritor não só da imaginação mas da realidade diretamente observada” – foi com esta caraterização que Arlindo Gouveia, em representação da Associação Alves Redol, começou por nos apresentar o autor homenageado.

Na sua intervenção apresentou-nos também a Associação, antes Centro Popular Alves Redol, nos inícios dos anos 70 do século passado, que ao tornar-se manifestamente incómodo ao regime teve de optar por constituir-se como Cooperativa, tendo por base a venda e divulgação de livros. Já no corrente ano, decididos a perseverar apesar de dificuldades criadas por alterações de legislação ao regime cooperativo, a histórica entidade alterou-se estatutariamente para associação de caráter cultural.

Mas sempre com o mesmo propósito: homenagear a grande figura literária, que é de Vila Franca de Xira e de tantas outras paragens onde encontrou a gente miúda que inspirou a vasta e profícua obra. Uma obra realmente vasta, sobretudo tendo em conta que Alves Redol morreu novo, com apenas 57 anos, em 1969.

Dessa obra nos falou o orador, dos primeiros contos e artigos no início da adolescência, ao primeiro ensaio de cariz etnográfico, “Glória”, até aquele que é considerado o primeiro romance Neorrealista em Portugal, “Gaibéus”, em que já perpassa pungente a mensagem contra as injustiças, evidenciando a consciência social que notabilizou o autor.

Uma mensagem que, tanto pelos livros, como pela intervenção social e política vivenciada no movimento associativo e expressa em palestras e artigos, valeu a Alves Redol a intolerância violenta e oficial da época, não escapando, em 1944, à prisão de Caxias.

A partir dessa primeira detenção os escritos passaram a estar sujeitos a censura prévia, todavia a mensagem e a maestria com que conta as tristezas do mundo, para que se construa um melhor, não esmoreceram. Os livros Avieiros, Fanga, o ciclo Port-Wine, uma Fenda na Muralha, Barranco de Cegos e todos os outros, incluindo as peças de teatro, são disso expressivo exemplo.

Foi recordado o marcante momento de afirmação política que foi o funeral do escritor, em Vila Franca de Xira. Na sala do nosso colóquio estavam pelo menos duas pessoas que testemunharam o manancial de gente que ocorreu a prestar a última homenagem, sob a escolta da GNR com cães e dos agentes da PIDE, preocupados em acautelar qualquer centelha menos resignada, a qual todavia se manifestou, aos gritos de “Abaixo a PIDE; Abaixo o Fascismo; Amnistia; Liberdade”.

Mas estar em Bucelas seria sobretudo pretexto para chegar a “Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos”, e do mais que Alves Redol escreveu quando viveu no Freixial, onde muitos o conheceram e ainda hoje lembram.

“Constantino”, um conto de tantas qualidades e abordagens, das quais Arlindo Gouveia destacou a componente ecológica, que só hoje em dia se tornaria assunto em voga.

Do conto e das pessoas de Constantino, de Manuel Coelho e de outros se falou, bem como das suas peripécias infantis, imaginadas com base naquilo que o escritor absorveu do espaço e da gente do Freixial.

Em seguida falou-nos Florbela Estevão, convidada em representação da Câmara Municipal de Loures, que se apresentou apreciadora de Redol desde muito nova.

Com ela aprofundámos as pistas que Arlindo Gouveia tinha deixado, sobre a terra e as gentes que inspiraram o conto do “Constantino”. A ligação da imaginação às experiências vividas, às pessoas reais e aos elementos etnográficos, foi evidenciada com uma apresentação em a oradora ilustrou com imagens da época aquilo que o escritor “mostrou” no conto.

Uma apresentação baseada em elementos imagéticos pertencentes ao espólio do Museu Municipal da Quinta do Conventinho, a partir de trabalhos de recolha feitos pela Câmara Municipal, demonstrando a ligação da literatura ao território, e fazendo-o cotejando as paisagens literárias com a paisagem geográfica.

Não menos interessantes foram as intervenções na conversa que se seguiu, incluindo o testemunho de um então miúdo do Freixial, que nos disse do costume de Alves Redol distribuir rebuçados pela miudagem quando por ele passavam à saída da escola.

Uma tarde bem passada a antever a já próxima, desta feita no Freixial, dia 10 de dezembro, café Adega do Manecas, onde acompanharemos a conversa com mais qualquer coisa…


Francisco Teixeira

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