02 julho 2015

70º Aniversário do assassinato de Alfredo Dinis - Alex


Evocação da Assembleia de Freguesia de Bucelas

No dia 4 de Julho de 2015 faz 70 anos que Alfredo Dinis (Alex), um homem bom e destacado dirigente do PCP, foi brutal e traiçoeiramente assassinado, na estrada da Bemposta, pela PVDE/PIDE do regime de terror, opressão e exploração de Salazar.

A Assembleia de Freguesia de Bucelas, reunida em sessão ordinária no dia 29 de junho de 2015, decide associar-se à evocação do 70º aniversário do assassinato de Alfredo Dinis, lutador pela liberdade e, indissociavelmente, ligado à história da luta antifascista no concelho de Loures.

Alfredo Dinis nasceu na 1ª república, cresceu e sentiu os ventos da revolução de Outubro de 1917 na Rússia, viu o golpe militar de 28 de Maio de 1926 e cedo viu a ditadura militar transformar-se em ditadura fascista: impondo o seu jugo terrorista sobre a população; liquidando o sindicalismo livre; proibindo os partidos políticos; perseguindo os seus dirigentes; criando um monstruoso aparelho repressivo com prisões, deportações e assassinatos. Foi neste contexto que Alex cresceu e moldou fortemente o seu carácter combativo e revolucionário, ingressando em 1936 nas Juventudes comunistas, numa altura em que já trabalhava como operário metalúrgico em Almada, na Parry&Son, e prosseguia os seus estudos nocturnos de desenhador numa escola industrial.

Portugal debatia-se com uma grave crise económica que também sacudiu o capitalismo europeu, levando ao poder o nazismo na Alemanha e ao desencadear da 2ª Guerra Mundial.

Com a guerra e a política Salazarista de colaboração com a Alemanha nazi (o envio de matérias primas essenciais para o desenrolar da guerra e de géneros alimentares que retirava ao povo português), a situação do povo torna-se desesperada. Os salários são baixíssimos, faltam os produtos mais essenciais, o açambarcamento generaliza-se e o mercado negro foi uma extraordinária negociata para alguns, enquanto a fome alastra. A luta contra o envio de géneros para a Alemanha e a luta pelo pão e por outros géneros de primeira necessidade desenvolve-se e ganha forma.

É neste quadro de fome e miséria para os trabalhadores e a maioria do povo que surgem diversas greves, marchas de fome, manifestações de rua. Quando Salazar decreta o racionamento do pão, em Abril de 1944, é marcada a grandiosa jornada antifascista de 8 e 9 de Maio, de que Alfredo Dinis foi destacado impulsionador, organizador e dirigente.

Loures foi palco de uma das grandiosas marchas da fome, associadas a essa jornada de luta, com milhares de operários, trabalhadores rurais e populares empunhando panos negros e gritando “temos fome!”.

«No dia 9, de manhã, os nossos camaradas de Sacavém começaram a organizar uma marcha que fosse a Loures reclamar mais pão ao administrador. Como as forças da PSP e muitos polícias de informação ocupassem as principais vias de Sacavém prendendo todos os trabalhadores que passassem, lançou-se a palavra de ordem: “todos os trabalhadores e mulheres se devem dirigir em grupos pequenos para Camarate, ninguém utilize as estradas; vamos por fazendas e azinhagas”. Assim se fez. Centenas de homens e mulheres dirigiram-se para lá. Pouco depois das 10 horas, partiram de Camarate para a Apelação mais de 1000 pessoas. Aqui juntaram-se, além dos operários da fábrica de munições, muitas centenas de camponeses de vários lados. Já com mais de 2000 manifestantes, a marcha prosseguiu o seu caminho para Frielas e Loures. Até Loures a manifestação foi sempre engrossando e, quando lá chegou, tinha mais de 3000 pessoas. Três bandeiras negras flutuavam. Milhares de vozes gritavam que queriam pão. O administrador disse que ia tentar resolver tal situação. Ainda que ele não resolva nada, o Partido e os trabalhadores já conseguiram uma grande vitória», escreveu Alex no seu informe “As lutas de 8 e 9 de Maio e a Aliança do Proletariado e do Campesinato”

Passado 1 ano, a mais criminosa e mortífera guerra de todos os tempos termina com a vitória da coligação antifascista. Milhões de Homens em todo o mundo festejam a derrota do nazi-fascismo. Alfredo Dinis, já então membro do Bureau Político do PCP, acompanha na região de Lisboa as manifestações de regozijo pela vitória sobre o nazi-fascismo, onde centenas de milhares de pessoas inundaram as ruas de Lisboa saudando e exigindo eleições livres, liberdade e democracia.

Não tinham ainda passado 2 meses sobre este importantíssimo acontecimento quando Alfredo Dinis é barbaramente assassinado, quando ia de bicicleta, na estrada da Bemposta, para um encontro clandestino, dinamizador da luta pela Liberdade e a Democracia.

Suportada nestes elementos históricos, entre outros, esta decisão da Assembleia de Freguesia de Bucelas de se associar à evocação do 70º aniversário do assassinato de Alfredo Dinis, Alex, quer significar, a condenação dum regime político que o povo de Abril derrotou em 1974, quer valorizar a actualidade de todas as lutas pela liberdade e o progresso social dos povos e países, a centralidade da realização humana que foi a vida de Alfredo Dinis, Alex!


O presente documento vai ser enviado às seguintes entidades:
Ao Partido Comunista Português;
Divulgá-la junto da População da Freguesia.

Nota: Evocação apresentada pela bancada da CDU e aprovada por unanimidade, com 9 votos a favor (6 da CDU e 2 do PS e 1 do PSD), na Assembleia de Freguesia de Bucelas, em 29 de junho de 2015.



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